Tubo de ventilação: será que meu filho precisa usar?
- contatoannabra
- 12 de mai.
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Sociedade Brasileira de Pediatria alerta que crianças com acondroplasia tem até 70% a mais de chances de desenvolver problemas auditivos

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, as desproporções faciais e a anatomia atípica das crianças com acondroplasia afetam a formação do osso temporal, da orelha média e da tuba auditiva. Por isso, é comum que os pais relatem maior incidência de otites e até perda auditiva nesses pacientes.
É importante lembrar que doenças da orelha média podem afetar qualquer pessoa, independentemente da idade. Elas ocorrem quando há inflamação ou infecção nessa região, localizada atrás do tímpano. Essas condições são geralmente dolorosas e impactam significativamente a qualidade de vida. No caso das crianças com acondroplasia, o risco é maior: estima-se que 50% a 70% apresentem algum grau de comprometimento auditivo. Dentre essas, cerca de 40% sofrem de perda auditiva condutiva, que pode vir acompanhada de perda auditiva neurossensorial.
A perda auditiva condutiva ocorre quando a capacidade do ouvido externo e médio de conduzir sons ao ouvido interno está reduzida ou bloqueada. Embora nem sempre apresente sintomas evidentes, ela pode ser percebida por uma perda auditiva progressiva ou súbita.
Já a perda auditiva neurossensorial está relacionada a lesões nas células ciliadas ou no nervo auditivo, prejudicando a transmissão dos sons. Ela pode vir acompanhada de zumbido, dificuldade para identificar a direção dos sons, necessidade de aumentar o volume de aparelhos eletrônicos e problemas para compreender conversas em ambientes ruidosos.
A complicação mais comum que leva à perda auditiva é a otite média serosa, que pode evoluir para um quadro agudo, conhecido como otite média aguda. Esse tipo de otite é pouco sintomático e tem como principal sinal a perda auditiva. Se não tratada, pode causar retrações e perfurações da membrana timpânica, além de evoluir para um colesteatoma (tumor benigno).
Na infância, a perda auditiva pode comprometer seriamente o desenvolvimento da fala e, consequentemente, o alcance de marcos neuropsicomotores, como: levantar a cabeça quando deitado de bruços, seguir objetos com os olhos, sorrir e vocalizar em resposta a estímulos, e tentar alcançar objetos próximos.
Diante desse cenário, aproximadamente 50% das crianças com acondroplasia necessitam da colocação de tubos de ventilação (Siegel), e uma parcela menor precisa se submeter a outras cirurgias otológicas.
A otorrinolaringologista Dra. Rosana Cunha, do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis (SC), explica que a anatomia facial e das tubas auditivas dessas crianças favorece o acúmulo de secreções nas orelhas, o que leva à perda auditiva condutiva. “É como se o paciente estivesse dentro de uma piscina. Isso, associado à hipertrofia das adenoides, que estão próximas às tubas, dificulta a drenagem natural das secreções”, afirma.
Segundo a médica, esse é o principal motivo para a indicação precoce de adenoidectomia associada à colocação dos tubos de ventilação, permitindo a ventilação e drenagem das orelhas médias quando as tubas auditivas não funcionam adequadamente.
“A colocação dos tubos é realizada sob anestesia geral, em centro cirúrgico. O procedimento envolve a abertura da membrana timpânica, aspiração da secreção acumulada e posicionamento do tubo, que permite a entrada de ar e a saída de líquidos da orelha média. Existem diferentes tamanhos e formatos, mas a maioria é feita de silicone, material que causa pouca reação alérgica”, explica a especialista.
No entanto, a indicação deve ser feita com base em uma avaliação criteriosa. A Dra. Rosana reforça que a presença de secreção persistente nas orelhas médias por mais de 120 dias, sem melhora com tratamento clínico, já configura indicação para o uso dos tubos. “O mesmo vale para pacientes com otites médias de repetição e que apresentam efeitos colaterais ao uso de antibióticos orais ou endovenosos. Com os tubos fenestrados, conseguimos aplicar antibióticos tópicos (em gotas) diretamente na orelha média, evitando os efeitos adversos comuns, como gosto amargo, náuseas, dores abdominais e diarreia”, detalha.
Benefícios e riscos

Como em qualquer procedimento cirúrgico, é fundamental o diagnóstico e exames específicos para determinar a real necessidade dos tubos de ventilação. De acordo com a médica, há riscos e benefícios que precisam ser considerados.
“Os principais benefícios são a restauração da audição e a possibilidade de tratar infecções com medicamentos tópicos, sem os efeitos colaterais sistêmicos. Entre os riscos estão a expulsão precoce dos tubos por infecções severas, obstrução por cerume ou sangue — o que pode comprometer sua função — além dos riscos inerentes à anestesia geral. Ainda assim, a melhora da audição é inequívoca! O aprendizado, a socialização e o desenvolvimento do paciente têm ganhos inestimáveis. Ouvir é sonhar com a vida que tem música!”, afirma com entusiasmo.
Quanto aos cuidados no uso dos tubos, a médica destaca que a principal preocupação dos responsáveis costuma ser o banho. No entanto, ela tranquiliza: “Pelo pequeno diâmetro e pela posição em que o tubo é inserido na membrana timpânica, o risco de entrada de água é quase nulo, embora a proteção deva ser mantida com responsabilidade”.
Desde 2013, a Academia Americana de Otorrinolaringologia disponibiliza um guia elaborado pelo Dr. Richard Rosenfeld, referência internacional em otites médias, com recomendações sobre o uso de protetores auriculares de silicone, algodão e outros materiais.
“Oferecemos alternativas seguras para que os responsáveis possam proteger os ouvidos das crianças sem restringir suas atividades. A natação, por exemplo, é amplamente utilizada na fisioterapia de crianças com nanismo e pode ser praticada com segurança”, finaliza a especialista.
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