Cirurgia de alongamento ósseo: indicações, recuperação e benefícios

Especialista do Piauí explica que indicação deve ser criteriosa e individualizada

A cirurgia de alongamento ósseo já foi a única opção para pessoas com nanismo. Mas mesmo com a chegada do Voxzogo e vários outros benefícios sendo identificados pelas crianças que fazem uso da medicação, o procedimento continua sendo indicado em alguns casos.

Segundo o ortopedista pediátrico Vinicius Pontes do Nascimento é de Teresina, no Piauí, o procedimento representa aumento na qualidade de vida da criança com nanismo, entre eles a melhora da proporcionalidade dos membros, da biomecânica da marcha e da funcionalidade global.

O especialista atende pacientes do Estado todo que optam pelo alongamento ósseo. Nessa conversa, ele nos conta em que casos a cirurgia é indicada. Aproveita e segue ele no instagram (@drviniciusnascimentopi).

Annabra - O que é e como é feito o alongamento ósseo?

Dr. Vinicius - O alongamento ósseo, ou distração osteogênica, é um procedimento cirúrgico baseado na técnica de Ilizarov, que promove o crescimento progressivo do osso após uma osteotomia controlada. O processo se dá por meio de um dispositivo de fixação — externo (como o fixador circular de Ilizarov ou o monolateral de Wagner) ou interno (como o Precice, um fixador intramedular motorizado) — que permite a distração gradual, geralmente a uma taxa de 1 mm por dia, fracionada em 3 ou 4 ativações diárias. Durante a distração, ocorre a formação de calo ósseo no espaço criado, que será posteriormente consolidado, desde que haja controle adequado da estabilidade, alinhamento e carga progressiva.

Annabra -  Como o alongamento ósseo pode ser uma opção para pessoas com nanismo?

Dr. Vinicius - Em pacientes com displasias esqueléticas, especialmente acondroplasia, o alongamento ósseo é uma possibilidade terapêutica que visa não apenas o ganho de estatura, mas também a melhora da proporcionalidade dos membros, da biomecânica da marcha e da funcionalidade global. Quando bem indicado, pode permitir maior independência para atividades da vida diária, facilitar o uso de mobiliário padrão e reduzir a sobrecarga articular em longo prazo.

Annabra - Em que casos o alongamento ósseo é recomendado para pacientes com nanismo?

Dr. Vinicius - A indicação deve ser criteriosa e individualizada. Considera-se o alongamento quando há comprometimento funcional, dificuldade de locomoção, sobrecarga biomecânica em articulações específicas ou quando há desejo expresso do paciente e/ou da família, com plena compreensão dos riscos, do tempo de tratamento e da necessidade de múltiplas cirurgias. O paciente deve apresentar bom suporte psicológico, familiar e capacidade de adesão ao protocolo de reabilitação. Idealmente, o tratamento deve ser conduzido em centros especializados em displasias esqueléticas e alongamento ósseo.

Annabra - Quantas cirurgias são necessárias para obtenção de um bom resultado?

Dr. Vinicius - Depende do protocolo adotado, da expectativa de ganho de estatura e da tolerância clínica e funcional do paciente. Normalmente, são realizadas de 3 a 4 etapas cirúrgicas: fêmures, tíbias e, em alguns casos, úmeros. Cada segmento pode ser alongado em torno de 5 a 8 cm por procedimento, com intervalos de recuperação entre as etapas que variam de 12 a 24 meses. O tempo total de tratamento pode se estender por 5 a 8 anos, incluindo as fases de distração, consolidação e reabilitação.

Annabra - Quais são os riscos e benefícios desse procedimento para crianças e adolescentes com nanismo?

Dr. Vinicius - Os benefícios incluem ganho de estatura (em média de 20 a 30 cm no total), melhora da funcionalidade, da autoestima e da integração psicossocial. Do ponto de vista biomecânico, há ainda a possibilidade de correção de deformidades angulares associadas e melhoria na relação comprimento tronco/membros.

Entre os riscos estão infecção de pinos, rigidez articular, subluxações, fraturas no calo ósseo, desalinhamentos, dor crônica, fibrose muscular e falhas na consolidação (pseudoartrose). Há ainda um importante impacto psicossocial e necessidade de acompanhamento psicológico constante. A reabilitação intensiva e o manejo multiprofissional são indispensáveis para o sucesso do tratamento.