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Kauê Motta: “Gosto de mostrar que somos capazes de fazer o que quisermos, basta ter desejo verdadeiro e acreditar”



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No Outubro Verde, mês de conscientização e combate ao preconceito contra pessoas com nanismo, a Associação Nanismo Brasil (ANNABRA) abre uma série de matérias especiais sobre representatividade. O destaque inicial é o halterofilista Kauê Motta, engenheiro civil de 29 anos, natural de Porto Velho (RO) e morador de São Paulo, que transformou as barreiras da acondroplasia em força, superação e medalhas no halterofilismo paralímpico.




Kauê conta que sua mãe descobriu que ele tinha acondroplasia logo nos primeiros meses de vida. “Minha mãe descobriu por conta da desproporção entre o tronco e a cabeça e me levou ao médico. Desde sempre, meus pais foram muito abertos comigo, perguntavam se eu queria fazer algum tratamento ou mudar algo, mas nunca de forma impositiva. Sempre me trataram como uma pessoa sem deficiência — tanto em casa quanto na escola. Então, para mim e para eles, foi algo bem de boa.”


Seu dia a dia é voltado para o esporte, com uma rotina de treinos intensa. “Faço musculação cinco vezes por semana e halterofilismo três vezes, sempre às segundas, terças e quintas no Comitê Paralímpico Brasileiro. Minha vida social é tranquila, gosto bastante de conversar, mas como moro um pouco afastado, na Zona Leste de São Paulo, acabo não saindo tanto. Mesmo assim, sempre que posso, estou com meus amigos e com as pessoas de quem gosto.”


Ele conta que o interesse pelo halterofilismo começou neste ano, por influência de um amigo. “Eu sempre treinei bem pesado, com cargas altas, e o Luciano Montanha, que é um atleta espetacular de halterofilismo, começou a insistir para que eu competisse. Depois de muita insistência dele — e ainda bem que ele insistiu — aceitei o desafio. Sou muito grato ao Luciano porque ele mudou bastante minha vida nesse sentido. Desde então, já competi em quatro campeonatos: um em Curitiba e três em São Paulo. Conquistei três medalhas: duas de primeiro lugar e uma de segundo.”


A insatisfação com o corpo, que provocava queda na autoestima, o levou a procurar o exercício físico diário. “Eu estava um pouco acima do peso e isso afetava meu psicológico e autoestima. Mas, depois que comecei a treinar, não tive vergonha nem medo de ir para a academia. Em Porto Velho, onde comecei, a academia era super receptiva. Fiz muitos amigos lá e isso me ajudou bastante.


Eu sempre digo que a academia muda o corpo, melhora a estética, mas o principal é o impacto na mente — e essa é a melhor parte. Se eu pudesse dar um conselho para qualquer pessoa, seria: pratique atividade física. Não precisa ser só academia; pode ser futebol, judô, uma luta, crossfit. O importante é movimentar o corpo, porque ele não foi feito para ficar parado. E quando você movimenta o corpo, sua cabeça melhora muito também.”


Mesmo sendo um atleta que representa o Brasil, Kauê enfrenta desafios para treinar e em seu cotidiano. “Nas academias, por exemplo, preciso adaptar praticamente todas as máquinas — de pernas, costas, peito. Sempre acabo dando um jeito para conseguir treinar. Uso bastante o metrô e, às vezes, não consigo segurar nas barras por serem altas, além de nem sempre receber prioridade, já que o nanismo foi reconhecido tardiamente como deficiência física. No dia a dia também enfrento situações simples, como no supermercado ou em lojas, quando os produtos estão em prateleiras muito altas. Nesses casos, eu mesmo me viro ou peço ajuda.”


Kauê afirma que as academias e outros ambientes esportivos não estão preparados para receber pessoas com nanismo e que há pouca representatividade na sociedade. “Não posso dizer que não exista representatividade, mas acredito que falta mais presença, não só de pessoas com nanismo, mas de todas as deficiências físicas em geral.”


Entre seus objetivos, Kauê espera participar do Mundial de Halterofilismo Paralímpico e das Paralimpíadas. “Fora do esporte, meu objetivo é orgulhar meus pais, construir uma família feliz, ser reconhecido como uma boa pessoa e mostrar para o mundo todo que, com ou sem deficiência física, somos capazes de realizar o que quisermos, basta acreditar e desejar profundamente.”


Hoje, ele é exemplo de força e resiliência para quem tem nanismo ou outra deficiência. “Para mim é uma honra ser visto como referência para pessoas com nanismo, principalmente os jovens. Fico muito feliz e honrado com isso. Gosto de mostrar que somos capazes de fazer o que quisermos, basta ter desejo verdadeiro e acreditar profundamente. Sempre tive muito carinho pelas crianças, tive uma infância tranquila e espero que todas elas também possam ter, independentemente das dificuldades que a vida apresente.”


Para aqueles que pensam em começar no esporte, seu conselho é direto: apenas comecem. “Não se preocupem com o que os outros vão falar. Se querem fazer natação, façam. Se querem fazer halterofilismo, façam. Se querem fazer atletismo, façam. Façam o que tiverem vontade, sem medo do julgamento alheio, porque esse problema é do outro, não é seu. Pensem em vocês e sigam o que desejam.”


Recado do campeão! Vamos juntos, Kauê!

 
 
 

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