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Apneia do sono e o uso do CPAP em pessoas com acondroplasia

Profissionais explicam que, em alguns casos, tratamentos precisam ser acompanhados  também profissionais da área de saúde bucal



A síndrome da apneia e hipopnéia do sono também conhecida pela sigla SAHOS, é um distúrbio do sono que consiste em pausas respiratórias durante o sono, podendo ou não estar associada com ronco, despertares durante a noite e sono agitado.

Em qualquer paciente podem existir também outras queixas indiretas como engasgos durante o sono, barulho de sufocamento, suor excessivo durante o sono, acordar com dor de garganta ou boca seca, ficar sonolento ou desatento ao longo do dia. E ainda pode aparecer de forma silenciosa, sem muitos sintomas, sendo detectado apenas no exame de polissonografia, assunto que já abordamos em nosso Instagram (@annabra.nanismo).

A Annabra conversou com duas especialistas, a Dra. Trissia Maria Farah Vassoler, otorrinolaringologista pediátrica e foniatra, e com a fonoaudióloga Eliete Toscano, ambas de Curitiba (PR), para explicar como a apnéia do sono pode ser tratada, e as indicações de uso do CPAP (Pressão Positiva Continua nas vias aéreas) para esta finalidade.


A entrevista na íntegra você confere abaixo:


Annabra - Como a apneia do sono se manifesta em crianças com nanismo?

Dra. Tríssia - No nanismo, as características faciais distintas caracterizadas por macrocefalia, protuberância frontal, hipoplasia da face média e uma ponte nasal deprimida podem levar ao aparecimento de SAHOS.

Pesquisas anteriores estabeleceram que essas características estruturais, em combinação com hipotonia da musculatura das vias aéreas, tecido linfoide hipertrófico, amígdala faríngea, lingual e adenoide, doença pulmonar restritiva de deformidades ósseas torácicas, e obesidade predispõem essa população a distúrbios respiratórios do sono (SDB).


Annabra - Como as características físicas do nanismo afetam a respiração e o sono das crianças?

Dra. Tríssia - A manifestação mais comum de SDB é a apneia obstrutiva do sono (SAHOS), que afeta aproximadamente 20% das crianças com acondroplasia. A apneia central do sono secundária à compressão do tronco cerebral por estenose do forame magno pode complicar ainda mais os distúrbios do sono nessa população.


Annabra – Existem também outros materiais que podem ser usados por pessoas com apnéia, como as placas para apneia. Como elas funcionam?

Dra. Tríssia - As placas para apneia são chamadas de dispositivos intrabucais e fazem um reposicionamento de língua e mandíbula para aumentar o espaço da via aérea enquanto o paciente dorme. Este novo posicionamento também pode auxiliar na ativação da musculatura da via respiratória melhorando o seu tônus o que também contribui para melhorar a respiração durante o sono.

Elas podem ser indicadas em casos de SAHOS leve ou até moderado quando o ponto de obstrução respiratória estiver localizado na região de atuação da placa, ou seja, para pacientes que tem uma posição mais posterior da mandíbula, pacientes retrognatas, e pacientes com queda de língua.


Annabra - Elas podem ser usadas em crianças com nanismo de forma eficaz?

Dra. Tríssia - Para pacientes com acondroplasia deve ser muito bem estudado o impacto que o uso da placa pode ter no tratamento, uma vez que, normalmente, a causa de obstrução tem múltiplos níveis, o que faria com que somente o uso da placa não resolvesse de forma completa as apneias. Estes aparelhos são adaptados normalmente por dentistas especializados, e será considerado também a dentição do paciente, trocas dentárias, problemas ortodônticos e de oclusão.


Annabra - Quais são os tipos de placas mais recomendados para crianças com essa condição?

Dra. Tríssia - Os aparelhos intrabucais podem ser de 3 tipos: Aparelho de avanço mandibular (DAM): Projeta a mandíbula para frente, abrindo as vias aéreas; Aparelho que mantém a língua em posição (TRD): Mantem a língua no lugar para evitar o colapso dos tecidos da garganta; Aparelho bibloco: Avança a mandíbula e atua diretamente na língua.

Annabra - Quais são os benefícios e desafios do uso de placas para apneia em crianças com essa condição?


Dra. Tríssia - Normalmente o tratamento da SAHOS dos pacientes com acondroplasia requer estudos de polissonografia e de imagem, além de sono endoscopia para que se possa analisar todos os pontos de obstrução que possam estar levando as apneias e se são anatômicos ou funcionais. Esta investigação com frequência requer uma equipe multidisciplinar. São recomendados de acordo com o diagnóstico cirurgias, CPAP, dispositivos intrabucais, fonoterapia e/ou fisioterapia, além de controle de peso e atividade regular.


Annabra - Qual é a taxa de sucesso do tratamento em crianças com nanismo em comparação com outras crianças?

Dra. Tríssia - O tratamento das apnéias nos pacientes com nanismo podem alcançar altas taxas de sucesso com as terapias combinadas e um bom acompanhamento médico que possa ir observando e diagnosticando durante o desenvolvimento do paciente quais as necessidades de tratamento.


Uso do CPAP

O CPAP (Pressão Positiva Continua nas vias aéreas) é um aparelho usado para tratar a apneia do sono. Ele envia uma pressão positiva para a via aérea utilizando uma máscara e esse fluxo de ar evita o colapso das vias aéreas durante o sono.

A fonoaudióloga Eliete Toscano de Curitiba (PR) fala as indicações para o CPAP. Você pode seguir a Dra. Eliete no instagram: @elietetoscano


Annabra - Crianças com nanismo têm um risco maior de problemas respiratórios?

Eliete - SIM. Em função das alterações craniofaciais, as estruturas de cartilagens e de ossos tem um tamanho reduzido dificultando a passagem do ar nas vias respiratórias.


Annabra - O que pode ser observado nas crianças com nanismo que pode levar à necessidade de um tratamento com CPAP?

Eliete - A Avaliação clínica é essencial, os pais e familiares precisam estar atentos observando o comportamento da criança, se há relato de sonolência excessiva durante o dia, se sente cansaço mesmo após ter dormido o número habitual de horas e se presenciam engasgos seguidos de roncos o que podem ser indicativos de apneia do sono.

Annabra - Quais são as principais condições respiratórias que podem ser tratadas com CPAP em crianças com nanismo?

Eliete - O CPAP é indicado para tratamento da apneia do sono e consequentemente os roncos.


Annabra - Quais testes e exames são utilizados para avaliar a necessidade de CPAP em crianças com nanismo?

Eliete - Exame de polissonografia que avalia o sono durante a noite e o exame de videonasolaringoscopia que é um exame de imagem que permite avaliar as estruturas da boca, orofaringe, hipofaringe e laringe identificando possíveis obstruções.


Annabra - Quais são os benefícios de usar CPAP para essas crianças?

Eliete - Diminuição dos roncos, do cansaço, da sonolência excessiva diurna, melhora na disposição, melhora do humor e das funções cognitivas uma vez que a apneia pode causar dificuldade de memória e concentração devido as interrupções do ar e da baixa saturação da oxi-hemoglobina (SaO2).


Annabra - Quais desafios existem ao usar CPAP em crianças com nanismo?

Dra. Eliete - Assim como para qualquer pessoa que inicia o uso do CPAP pode ser desafiador se acostumar a dormir com uma máscara, por isso se faz necessário um bom acompanhamento do profissional que ao adaptar o CPAP precisa ter um bom olhar clínico na hora da escolha do modelo da máscara. 


Annabra - Há diferenças no tratamento de CPAP para crianças com diferentes tipos de nanismo?

Eliete - Não há diferenças, pois, o princípio de funcionamento dele é padrão, o que poderá alterar é a quantidade de ar a ser enviada (regulada/ajustada) e o tipo de máscara a ser escolhida pelo profissional.

Annabra - O uso de CPAP é recomendado desde a infância ou é iniciado somente em fases mais avançadas da vida?

Dra. Eliete - É recomendado assim que diagnosticado a apneia. Dependendo do índice de apneia ele é o único tratamento capaz de garantir a resolução do quadro. 


Annabra - Como é o acompanhamento de uma criança com nanismo que utiliza CPAP?

Eliete - O CPAP possui um cartão de memória onde grava os dados de uso, e alguns modelos podem ser acessados os dados via internet. Esses dados fornecem informações importantes quando a evolução do tratamento pois é possível saber quantas horas tem sido usado por noite, se apresenta escape de ar, se a quantidade de ar enviada está adequada para mantêm os eventos respiratórios controlados.

 

Sobre as profissionais

Dra. Trissia Maria Farah Vassoler, de Curitiba(PR), é Otologista, otorrinolaringologista pediátrica e foniatra, tem mestrado em tecnologia aplicada a saúde da infância e adolescência, atua nos grupos de implante coclear, próteses implantáveis e saúde auditiva dos Hospitais Angelina Caron e Pequeno Príncipe e na clínica Copec.

Eliete Toscano de Curitiba (PR) é fonoaudióloga, e acompanha o tratamento de vários pacientes diagnosticados com apnéia do sono. Você pode segui-la no instagram: @elietetoscano

 

 
 
 

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