Especialistas dão dicas para melhorar a qualidade de vida de pessoas com nanismo

Diariamente, pessoas com nanismo enfrentam desafios relacionados à falta de acessibilidade e inclusão, pois os espaços de convívio raramente contam com adaptações adequadas. Devido à baixa estatura, as soluções existentes são limitadas ou inexistentes. Muitas vezes, precisam recorrer a adaptações destinadas a cadeirantes, que nem sempre atendem às suas necessidades específicas.
A acessibilidade pode ser melhorada por meio de ajustes em infraestrutura, mobiliário, conscientização e combate ao preconceito, bem como pelo acolhimento de pessoas com nanismo e suas famílias.
As arquitetas Fernanda Correa e Fabiana Pessoa, sócias do MOBIACESSI, escritório especializado em acessibilidade em São Paulo, compartilham suas experiências e destacam soluções para tornar o mundo mais inclusivo.
Annabra - As cidades estão preparadas para garantir acessibilidade às pessoas com deficiência? O que precisa avançar?
Fernanda e Fabiana: De forma geral, as cidades brasileiras ainda não estão preparadas para garantir acessibilidade plena às pessoas com deficiência (PCD). Apesar de avanços legais, como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) e a norma ABNT NBR 9050, a fiscalização é falha e varia entre os municípios.
A infraestrutura urbana é um exemplo crítico: calçadas são irregulares, estreitas e frequentemente obstruídas por postes e lixeiras. É essencial projetar espaços que reduzam a fadiga de acesso, beneficiando não apenas as pessoas com deficiência, mas também suas famílias e cuidadores.
Annabra - Espaços como escolas, academias e restaurantes devem focar mais na inclusão e acessibilidade?
Fernanda e Fabiana: Sim, é imprescindível que todos os espaços, públicos e privados, garantam acessibilidade e inclusão. As leis já estabelecem esse direito:
A Lei Federal 10.048/2000 garante atendimento prioritário para pessoas com deficiência, idosos, gestantes e outros grupos.
A Lei Federal 10.098/2000 define normas para acessibilidade.
O Decreto 5.296/2004 regulamenta ambas e reforça o direito de acesso.
Não basta oferecer serviços; é fundamental permitir que todos usufruam dos espaços com igualdade de oportunidades. Ambientes acessíveis promovem a inclusão e o bem-estar, garantindo que a acessibilidade seja vista como um direito e não um privilégio.
Annabra - Muitas adaptações são voltadas para cadeirantes, mas pessoas com nanismo também enfrentam desafios. Como considerar essas diferenças ao planejar espaços?
Fernanda e Fabiana: Cada deficiência tem desafios específicos, e o ideal é adotar o conceito de Desenho Universal, que busca soluções inclusivas para o maior número possível de pessoas, sem necessidade de adaptações futuras.
Para pessoas com nanismo, pequenas modificações fazem grande diferença: mobiliário ajustável, prateleiras mais baixas, espelhos inclinados e barras de apoio. A verdadeira inclusão acontece quando todos têm acesso igualitário a oportunidades e recursos.
Annabra - Os pais muitas vezes se preocupam ao receber o diagnóstico de nanismo em seus filhos. Como adaptar a casa com soluções acessíveis e criativas?
Fernanda e Fabiana: O diagnóstico pode ser um momento desafiador para os pais, mas é possível criar um ambiente acessível sem grandes investimentos. Algumas soluções práticas incluem:
Mobiliário adaptado: mesas, cadeiras e bancadas mais baixas.
Banheiros acessíveis: pias entre 60 e 75 cm de altura, barras de apoio e bancos de segurança.
Cozinha adaptada: pias e balcões na altura adequada.
Organização eficiente: itens essenciais dispostos na altura da pessoa, evitando escadas e bancos altos.
Soluções simples, aliadas a materiais acessíveis, podem garantir um ambiente seguro e independente.
Annabra - Como a acessibilidade melhora a qualidade de vida das pessoas com deficiência?
Fernanda e Fabiana: A acessibilidade proporciona autonomia, segurança e inclusão social. Espaços adaptados permitem que pessoas com deficiência vivam de forma independente, trabalhem, estudem e participem ativamente da sociedade.
Historicamente, o foco era apenas na saúde e sobrevivência. Hoje, buscamos qualidade de vida e igualdade de oportunidades. Isso passa por infraestrutura adequada, tecnologia assistiva e, principalmente, uma sociedade que respeite e valorize a diversidade.
Promover acessibilidade é combater o capacitismo, garantir representatividade e criar um mundo onde todos tenham direito de ir e vir sem barreiras. A inclusão não é um favor, é um direito.
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